'Scorpion' chegou aos serviços de streaming em 29/6 e é dividido entre rap e
R&B
Interminável é o adjetivo que melhor descreve a dominância e
constância que o rapper, cantor e compositor canadense Drake conseguiu imprimir
em sua carreira. Desde que despontou para o grande público em 2009 com a mixtape
So Far Gone, estabeleceu o que é tido facilmente como o auge mais duradouro da
história do rap.
Chegar e permanecer no topo não foi tudo. Ao desafiar os
paradigmas do hip-hop por se gabar sobre suas conquistas com flows e versos
matadores na mesma medida em que expunha suas emoções provindas de
relacionamentos falhos de forma vulnerável e transparente, o artista de Toronto
(re) abriu precedentes no rap e tornou-se um dos artistas mais influentes de sua
geração.
Em 'Scorpion', seu quinto álbum de estúdio que chegou
aos serviços de streaming na última sexta-feira (29/6), Drizzy oferece aos fãs
algo constantemente requisitado há pelo menos metade de sua estadia no topo: um
álbum duplo, com cada sequência dedicada a um dos gêneros que o artista tão bem
mesclou durante toda sua discografia.
O projeto tem 90 minutos de duração e dois lados
distintos. Um inteiro de rap, outro quase totalmente R&B, totalizando 25
músicas. Vamos a elas.
Lado A
Explosiva, a faixa 'Survival' abre o álbum - e o lado
A, focado no rap – cumprindo totalmente sua função de abrir o projeto, deixando
claro o teor obscuro e sombrio que praticamente não dá trégua durante os 90
minutos. Ainda que procure se conter por estar apenas na Intro, como diz algumas
vezes durante seu verso, há espaço para comentar a rixa com o rapper Pusha-T,
acontecida há algumas semanas.
Resumidamente, após troca de hostilidades ferrenha,
uma falta de resposta por parte de Drake colocou em xeque pela primeira vez de
forma real sua posição de número um no hip-hop. “A coroa está quebrada em
pedaços, mas há mais em minha posse” é apenas uma das referências ao ocorrido no
Scorpion.
'Emotionless', carregada por um sample de Mariah
Carey, traz comentários sociais sobre o uso das redes sociais em um mundo
líquido, raso e de aparências.
Isso imediatamente antes do artista revelar/confirmar
que é pai de um menino nascido em outubro do ano passado. A “fofoca” já tinha
sido feita por Pusha-T durante a citada treta, o que mostra o nível em que
chegou a desavença entre os artistas.
Mais referências a seu herdeiro acontecem ao longo do
álbum, mas outra com tamanho detalhe só viria na última música do lado B.
O produtor Tay Keith, do single top 10 da Billboard
Hot100 'Look Alive', sucesso de BlocBoy JB com participação de Drake, volta para
'Nonstop', a segunda música do álbum. É a mais indicada para sua playlist
pré-rolê, ou melhor colocando com a ajuda de uma expressão em inglês,
definitivamente a mais “club-ready” do Lado A. Os ad-libs sussurrados garantem o
carisma da canção de forma instantânea.
A mais melódica 'Elevate', que vem na sequência, é
mais uma celebração sem segredos do sucesso comercial atingido por Drizzy, e
sintetiza um sentimento que perdura durante as 25 faixas: salvo gosto pessoal, é
difícil encontrar um momento genuinamente ruim no 'Scorpion', mas a procura por
ápices de qualidade que mereçam ser citados em discussões sobre a discografia do
artista é igualmente uma tarefa complicada.
A já consagrada e multi-platina 'God’s Plan' e o
terceiro single 'I’m Upset', que pode demorar para cair no gosto do ouvinte por
parecer maçante nas primeiras reproduções, são também adições certeiras para
aquela playlist já citada.
Se o álbum duplo dividido entre Rap/R&B realizou
o desejo de muitos fãs, o rapper com certeza atingiu um sonho pessoal na faixa
'Don’t Matter to Me', que conta com a participação do Rei do Pop Michael
Jackson.
A voz do astro, gravada em 1983 para uma canção que
nunca viu a luz do dia, foi bem acomodada pelo instrumental estelar de 40 e
Nineteen85 - outro produtor do selo OVO Sound – que exemplificam como ser
sucinto e grandioso ao mesmo tempo.
Drake reedita para a letra basicamente o mesmo
conceito de Hotline Bling, lamentando as decisões de uma garota para conseguir
superá-lo. Quem não tiver problema com os vocais póstumos de MJ sendo utilizados
com uma tonelada de efeitos para tratar o acapella original vai certamente ver a
faixa como um ponto alto.
Assim como 'Summer Games', a segunda do lado B, que
lembra o material da já citada mixtape 'So Far Gone', de 2009, e possui um dos
instrumentais mais cheios de vida do set R&B. “Como você pode ficar com
raiva em uma noite em julho e ser quente comigo quando está congelando lá fora?”
é um exemplo de frase certeira que mostra que o cantor não perdeu seu toque de
midas quando o assunto é capturar as emoções de sua geração e transformá-las em
letras e melodias com as quais seu público consegue se relacionar de uma forma
sem precedentes.
O som mais experimental também é visto em “Ratchet
Happy Birthday”, essa mais polarizadora e com o autotune mais evidente de todo o
Scorpion. Outra participação póstuma acontece em “After Dark”, uma das melhores
faixas e instrumentais do lado B.
Static Major, falecido em 2008 - a quem Drake já
prestou homenagem em 2011 no instrumental de “Look What You’ve Done”, dedicada a
sua mãe - divide a canção com Ty Dolla $ign, um dos expoentes do atual R&B.
Ty entrega um ótimo verso, e Drizzy não fica muito atrás.
Nem só de R&B alternativo, atmosférico e sombrio
vive o Lado B. A mais dançante da sequência é “In My Feelings”, uma daquelas
que, se por acaso a tracklist tivesse de ser reduzido para umas 13 ou 15 músicas
agregando as melhores de cada lado, não poderia ficar de fora.
Possui alguns elementos de “Nice for What”, o sucesso
cheio de alma produzido por Murda Beatz que serviu como o segundo single e é uma
das melhores das 25 canções, e encontra-se no lado B apesar da participação de
Drake na canção ser com versos de rap
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